segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Alguém

Não deixe que a necessidade de ter alguém cresça em você.
Ninguém é alguém, todos são indivíduos únicos.
Mas você precisará de alguém, e não de um indivíduo.
Eu nunca poderei ser alguém, eu continuarei sendo um indivíduo.
Esse alguém surgirá despretensiosamente, mas há de se tornar enorme.
Seus olhos serão guiados pela sua necessidade até que você veja em mim o alguém que você queria.
Meu afeto por você me levará a encenar, me colocar como esse alguém que você quer.
E quando quiser sair do palco, lá estarei preso, como refém da sua carência.
Você, pior do que eu, estará presa a plateia, vendo o personagem, impedida de perceber a pessoa.
Oxalá você se realize minha cara, quando isto acontecer você não precisará de alguém.
E se cai o alicerce da sua carência cairá também o prédio do seu simulacro afetivo.
Seus olhos hão de sondar demoradamente os meus.
E você poderá, enfim, me conhecer.

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