É difícil expressar a impressão criada.
Por vinte anos na Inglaterra, antes da guerra, Ouspensky tinha quase que
diariamente explicado o sistema. Tinha dito que tudo deveria referir-se a ele,
que as coisas poderiam apenas ser compreendidas em relação a ele. Para aqueles
que o haviam escutado, o sistema representava a explicação de todas as coisas
difíceis, indicava o caminho para todas as coisas boas. Suas palavras e
linguagem tornaram-se mais familiares que o idioma natal. Como eles poderiam
‘abandonar o sistema’?
Àqueles que ouviam com atitude positiva
o que ele tinha a dizer-lhes, era como se um grande peso lhes tivesse sido
tirado. Perceberam que, no caminho da evolução, o verdadeiro conhecimento deve
primeiro ser adquirido e então abandonado. O que exatamente torna possível uma
porta ser aberta talvez torne impossível a abertura da próxima. E alguns então
pela primeira vez começaram a ter idéia de onde poderia estar aquela chave que
estava faltando e que poderia levá-los ao lugar onde Ouspensky estava e eles
não.
Depois disso, Ouspensky retirou-se à sua
casa de campo, onde via poucas pessoas e raramente falava. Agora ele demonstrava
e realizava em atos e em silêncio a mudança de consciência cuja teoria ele havia
exposto por tantos anos.
A história daqueles meses não pode ser
contada aqui. Mas, ao amanhecer de um dia de setembro, quinze dias antes de sua
morte, após estranha e longa preparação, ele disse aos poucos amigos que estavam
com ele: “Vocês devem começar outra vez. Devem fazer um novo começo. Devem
reconstruir tudo por si mesmos do próprio início.”
Este era então o verdadeiro significado
de ‘abandonar o sistema’. Todo sistema de verdade deve ser abandonado para que
possa germinar outra vez. Ele os libertara de uma expressão da verdade que
poderia ter-se tornado um dogma, mas, em vez disso, essa expressão iria gerar
uma centena de formas vivas que terminaria por afetar vários aspectos da
vida.