sábado, 5 de julho de 2014

O Peso da Reforma Moral

Acho que mais de 90% das nossas manifestações(incluindo ai pensamento, ação, reação, reflexos, sentimentos, hábitos) são mecânicas, obedecem padrões já antes estabelecidos. Digamos que em algum momento específico da minha vida eu passe a valorizar exclusivamente um tipo de estética arquitetônica X, e que isso crie raízes profundas em mim e que uns anos depois, ainda sob a influência desse valor, eu, por um acidente, tenha que ir morar numa casa com um tipo de estética arquitetônica Y, que conflita com os valores da estética X. Esse valor anterior poderia realizar uma forte interferência na minha experiência com a casa, teria um efeito bastante desagradável... Imagine que eu me torne muçulmano, e que eu adquira todo um típico conjunto de valores condizentes com o islamismo fundamentalista, e que posteriormente eu tenha um filho que se torne evangélico, meus valores muçulmanos tendem a interferir na minha relação com meu filho, talvez até de uma maneira um pouco trágica. Digamos que eu abrace um ideal de vida hedonista, e que eu ache normal usar as pessoas, sem menor consideração por elas, visando apenas a minha satisfação egoísta, e que esses valores egoístas e utilitários se cristalizem na minha psique, e que eu engravide uma dessas pessoas e nasça uma criança defeituosa, ora, precisarei ter uma postura de doação pra com essa criança, mas meu complexo de valores estaria apenas programado pra busca de satisfação imediata e eu teria um sofrimento duplo, o primeiro pela situação em si, o segundo pelo conflito entre os valores que se cristalizaram em mim e a postura que as circunstâncias exigem de mim. Estes exemplos devem ser a ponta do iceberg, estou convencido de que uma grande parcela da nossa felicidade ou infelicidade é determinada por esses conjuntos de valores. Existe um outro problema, esses valores não podem ser mudados o tempo todo, existem períodos específicos aonde é mais fácil mudar esses valores, existem períodos onde é muito difícil mudar, onde nos tornamos escravos desses valores anteriormente adquiridos. É necessário, nas fases propensas a mudança de valores, ter em mente, os possíveis efeitos dos valores que estamos adquirindo, acho que isso é a base da consciência moral.


Obs 1: Existem pessoas que são mais maleáveis, que mudam seus valores com maior frequência, mas acredito que elas paguem um preço por isso... Uma pessoa assim é como um ônibus que para em uma série muito grande de pontos, essas fases de reforma moral(como a minha atual), são pouco produtivas, pois uma boa parcela da energia psíquica da pessoa se destina a reforma e a pessoa se vê com menores forças psicológicas perante os desafios da vida prática.

Obs2: Uma vez que os efeitos de uma determinada reforma moral podem ter fortes efeitos, entendo que seja muito importante ser o mais realista possível durante elas, tentar se pautar em princípios objetivos, sem se deixar levar pelo calor do momento.

Obs 3: - Atualmente creio que religiões são, acima tudo, uma orientação moral coletiva, as grandes mentes da religião não são aquelas que construiram o conteúdo mais coerente, mas aquelas que calcularam melhor o impacto de seu conteúdo sobre a psique coletiva.

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