sexta-feira, 29 de julho de 2011

A LENDA DAS AREIAS

''Um riacho, vindo desde suas origens distantes nas montanhas, passando por todo tipo de terrenos ao atravessar os campos, finalmente alcançou as areias do deserto. Assim como atravessou as outras barreiras, o riacho tentou atravessar esta. Porém, descobriu que assim que mergulhava na direção das areias, suas águas desapareciam.

Estava convencido, no entanto, de que era seu destino cruzar aquele deserto, mas ainda assim não sabia como fazê-lo. Então, uma voz misteriosa vinda do próprio deserto sussurou: “O vento cruza o deserto, o mesmo pode fazer o riacho.”

O riacho objetou que estava se arremessando contra as areias, apenas para ser absorvido em seguida, e que o vento podia voar, e por isso podia atravessar o deserto.

“Atirando-se da maneira como está habituado não conseguirá cruzá-lo. Irá apenas desaparecer, ou tornar-se um pântano. Deve permitir que o vento o carregue sobre as areias até seu destino.”

“Mas como pode isso acontecer?”

“Permitindo ser absorvido pelo vento.”

Essa idéia não era aceitável para o riacho. Afinal de contas, ele nunca fora absorvido antes. Não queria perder sua individualidade. E uma vez a tendo perdido, como saberia que seria recuperável?

“O vento cumpre essa função”, disseram as areias, “eleva a água, carrega-a sobre o deserto e depois a deixa cair. Caindo como chuva, a água novamente se torna um rio.”

“Como posso saber que isso é verdade?”

“Assim é, e se não acredita, não se tornará mais que um charco, e mesmo isto levaria muitos e muitos anos; e certamente um charco não é o mesmo que um riacho.”

“Mas não posso permanecer o mesmo riacho que sou hoje?”

“Não pode, em caso algum, permanecer assim”, respondeu a voz. “Sua parte essencial é transportada e forma um riacho novamente. Você é chamado assim hoje mesmo sem saber qual parte de você é a essencial.”

Ao ouvir isto, certos ecos começaram a surgir nos pensamentos do riacho. Vagamente, lembrou um estado em que ele – ou uma parte dele, será? – fora levada nos braços do vento. Também lembrou – ou quase – de que isso era o que deveria fazer, não necessariamente o mais óbvio a fazer.

E o riacho elevou-se como vapor nos acolhedores braços do vento, que gentil e facilmente o carregou para o alto ao longo do deserto, deixando-o cair suavemente assim que alcançaram o topo de uma montanha, milhas e milhas depois. E porque tivera suas dúvidas, o riacho pode recordar e gravar melhor em sua memória os detalhes daquela experiência. E refletiu, “Sim, agora conheci minha verdadeira identidade.”

O riacho estava aprendendo. E as areias sussurraram: “Sabemos disso porque vemos acontecer dia após dia; e porque nós, as areias, nos estendemos desde as margens do rio até as montanhas.”

E é por isso que se diz que o caminho pelo qual o Rio da Vida tem que seguir sua viagem está escrito nas Areias''

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